ANÁLISE DE FATORES BIOMECÂNICOS DA CADEIA CINÉTICA DE INDIVÍDUOS COM DOR NO OMBRO EM RELAÇÃO AOS ASSINTOMÁTICOS
Sistema musculoesquelético. Desempenho físico funcional. Exame
físico. Amplitude de movimento articular. Equilíbrio postural.
INTRODUÇÃO: O conceito de cadeia cinética propõe uma visão corporal através de uma
série de elos interdependentes responsáveis pela transmissão sequencial de energia ao longo
dos sistemas musculoesquelético e fascial. Alterações em componentes da cadeia cinética
podem prejudicar essa transmissão de energia e sobrecarregar estruturas corporais adjacentes,
podendo relacionar-se ao risco de dor e lesões no ombro. Comprometimentos biomecânicos em
diferentes segmentos corporais já foram investigados em atletas com dor no ombro. No entanto,
a associação entre fatores relacionados à cadeia cinética e a dor no ombro em indivíduos fora
do contexto esportivo ainda não está estabelecida. Além disso, a síntese das características
biomecânicas desse público ainda não foi apresentada na literatura.
OBJETIVOS: Verificar a associação entre fatores biomecânicos relacionados à cadeia cinética
e a presença de dor no ombro e sintetizar a literatura que investigou alterações em componentes
da cadeia cinética de indivíduos com dor no ombro em comparação aos assintomáticos.
MÉTODOS: Trata-se de dois estudos: uma pesquisa de caráter transversal e uma revisão
sistemática. O primeiro investigou a estabilidade lombo-pélvica, a amplitude ativa de
movimento e o pico de força muscular isométrica de indivíduos com e sem dor no ombro. Uma
regressão multivariada logística binária foi realizada no software IBM® SPSS® 25 para analisar
a chance de cada indivíduo fazer parte de um dos grupos (com ou sem dor no ombro). O segundo
reuniu os achados de estudos observacionais indexados até dezembro de 2022 nas bases de
dados MEDLINE, CINAHL, Web of Science, EMBASE e SCOPUS. O risco de viés foi
analisado pela Joanna Briggs Institute Critical Appraisal Tool for Analytical Cross-Sectional
Studies e a qualidade da evidência foi definida pelo Grading of Recommendations, Assessment,
Development, and Evaluation (GRADE).
RESULTADOS: No estudo transversal foram avaliados 40 indivíduos: 19 com dor no ombro
e 21 assintomáticos. Apenas a força isométrica dos músculos extensores do tronco apresentou
contribuição estatisticamente significativa ao modelo de regressão (p = 0,03 | razão de chances
[odds ratio] = 0,99), não sendo observadas associações significativas entre os demais desfechos
e a presença de dor no ombro. Na revisão, quatro estudos transversais com baixo risco de viés
foram incluídos (n = 358, 179 indivíduos com dor no ombro). Evidências de qualidade muito
baixa apontaram que indivíduos com dor no ombro podem apresentar redução na amplitude de
movimento e resistência muscular na região toracolombar e quadris e menor controle
neuromuscular das extremidades inferiores em comparação a indivíduos assintomáticos. Os
achados relacionados à postura da coluna torácica mostraram-se conflitantes.
CONCLUSÃO: A força isométrica dos músculos extensores do tronco pode estar associada a
presença de dor no ombro e estudos observacionais indicam que indivíduos com dor no ombro
podem apresentar alterações na mobilidade, resistência muscular e/ou controle neuromuscular
na região toracolombar e nas extremidades inferiores em comparação a indivíduos
assintomáticos. Tais achados sugerem que avaliações físicas considerando fatores
biomecânicos não locais podem ser relevantes na população com dor no ombro.